As inúmeras, longas e curtidas caminhadas pelo Soho de Buenos Aires sempre reservam aqueles momentos de descoberta. São tantos restaurantes, bares e lojinhas concentrados neste pedaço do bairro Palermo que, inevitavelmente, sempre haverá um lugar a mais para visitar depois. Numa dessas tantas circuladas, vidrava os olhos no Cluny e deixava na minha lista de afazeres.
O pátio central da casa é palco para poucas mesinhas cercadas de muito verde, e o sossego do lugar é praticamente um cartão postal do ameno outono portenho. Olhando da rua, era sempre essa visão que me fazia exclamar um “esqueci que estou há horas para visitar o Cluny!”
Mas o interior da casa ainda reservava um ambiente extremamente aconchegante. Dentre as diversas mesas distribuídas no aconchegante salão de pé direito duplo, o destaque merecido para as poltronas brancas, sorrindo para o cliente num sedutor convite ao ócio.
A discreta iluminação do restaurante servia de mero apoio para a deliciosa entrada de luz natural, graças a este pequeno detalhe da construção que faz toda a diferença no ambiente.
Já aconchegado em uma daquelas poltronas branquinhas foi que avistei o outro salão do restaurante, onde se encontrava uma caprichada barra de tragos. Mas não vacilei e continuei no mesmo lugar, pois os ânimos reservavam uma experiência diferente dos meus amados cocktails nesse dia.
Ainda olhei para o pátio, do outro ângulo, e fiquei pensando se não deveria ter sentado lá fora. Palmas para o Cluny, que faz de todo canto da casa um destaque. E palmas para mim, por ser tão indeciso certas vezes. Argh!
Mas o conforto já dizia quase tudo, e o que não dizia era completado pela amena temperatura que agraciava o dia. E foi justamente esse ponto de vista metereológico que me levou a pedir um gazpacho, a tradicional sopa espanhola de tomates e aipo servida gelada. Sou suspeito, pois tomaria isso todos os dias.
E seguindo nessa onda rubro-fresca que foi pedida uma garrafa de Blanc de Noire de Lagarde, um rosê mendoncino de 2008 extremamente frutado e... e eu não sei descrever mais além de frutado. Mas tornou-se rapidamente um argentino favorito na minha lista.
Se a idéia era de ócio e conversas vagarosas ao redor de uma garrafa de vinho, foi que me permiti um risoto de queijo com cordeiro e cogumelos, sabores bem sutis assinados pelos chefs Juan Manuel Harvez e Luis Cambre.
E aos poucos, entre boas conversas e perspectivas interessantes sobre o futuro que a melancolia inevitável de uma garrafa vazia foi se aproximando.
Solução? Um encorpadaço malbec 2005 Quara, com seu simpático guanaco servindo de símbolo a esta vinícola da região del Valle de Cafayate.
Uma experiência completamente condizente com a proposta deste que é um dos mais charmosos restaurante de Palermo. Após pagar a conta de $130 (R$65), disfarcei a vontade urgente de soltar um bocejo sonoro, sai caminhando arrastando os pés pelo bairro para, tão em breve, vidrar o olhar em uma casa e exclamar um “esqueci que estou há horas para visitar o...”
Cluny
El Salvador 4618 (esq. Malabia) – Palermo Soho
Cap. Federal – Buenos Aires
(11) 4831.7176
Mapa
Cluny | o soho típico
quarta-feira, 19 de maio de 2010 - 20:24
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Geraldo Figueras
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Beber e comer,
Calmo,
Palermo Soho
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5 comentários:
"A felicidade é uma estação entre a carência e o excesso".
Lendo seu post, parafraseio Ibsen, ratificando que, pra minha carência, só o maravilhoso Cluny, revelado por você, que excede, pra eu atingir a felicidade em Palermo!
Bora agora pro Nirvana!
Mais do que beijos, pra você, por essa sua dica, pra lá de especial!
Será o primeiro pit stop, de minha volta à BsAs!!!
Ah...antes que Ibsen venha puxar meu pé, esqueci uma palavra importante, de sua citação.
Daí o meu pit stop, nessa estação "intermediária", pra alcançar a felicidade...
Amém, Ibsen, pelo insight. Amém, Ligia, pelo retweet. Vai direto pro greatestquotes.doc
Beijo!
Geraldo Figueras
Almoço ducaralhis. Marcou bem a chegada na cidade.
E esse lagarde matou a pau. Virou um dos meus rosés preferidos.
Ah, e no Free Shop acabei levando um Quara desses. Muiiito interessante.
Abraços
Foi basicamente um dos melhores "bem vindos" que tivemos ao viajar. Classic!
Abraço!
Geraldo Figueras
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