Analisando a campanha do governo que promove a sustentabilidade na cidade de Buenos Aires, resolvi um dia desses fazer minha parte e fui andar de bicicleta pelas avenidas Libertador e Figueroa Alcorta. Devidamente preparada (leia-se sem capacete – não recomendamos isso) decidi cooperar com o clima do planeta – e também economizar alguns pesos em táxi. Conseqüência do meu estado físico, nada apto para atividades ao ar livre, ou não, fui obrigada a fazer um pit stop. Curiosamente, eis que surge ao meu lado direito o Museu Nacional de Arte Decorativo. Cidadã que sou, nunca em cinco anos de moradia porteña, pisei num deles (data: não sinto orgulho disso). Enfim, já era hora de me atirar.
Detalhe que não tinha reparado antes e que fez a total diferença no meu descanso ciclista, foi a presença de um dos cafés da rede Croque Madame. Ahh delícia. Era tudo o que eu precisava. O café-restaurante segue a mesma linha de construção do museu – um neoclássico francês, e é destino certo dos moradores da região e dos freqüentadores do local. Mas primeiro resolvi dar uma chance às antigas relíquias que o museu possui.
Confesso que não demorei muito pra sentir a onipotência daquela construção de começo do século XX, razão pela qual foi declarada monumento histórico artístico em maio de 97. Desde esculturas romanas até criações artesanais a casa comporta. A maioria dos objetos pertencia à família Alvear (cujo nome estampa a avenida mais luxuosa de Buenos Aires). Quartos, salões enormes, uma riqueza total que esbanja, literalmente, ouro e prata por qualquer canto que se entre. O fato é que não pude tirar a foto, mas pagar cinco pesitos pra tirar umas idéias de decoração de casa vale o preço.
A tarde primaveral, com aqueles 20 graus amenos, rendeu mesas fora da parte coberta rodeada de um belo jardim com as flores que a estação propõe.
Por curiosidade resolvi ficar dentro do café e me render ali mesmo com algumas delícias que a cozinha sugere. O resultado foi um ambiente simples, com um que de classicismo em tons sérios. Nada que tirasse a atenção do que pediria mais adiante.
Por exemplo esse Petit Gateau au chocolat com sorvete de creme e calda de laranja. Foi o tempo de tirar uma foto e atacar o doce, que combinou certinho com a temperatura do dia. Não sobrou nem pra contar história.
E pra harmonizar, um vinhozinho branco Cuatro Estaciones. Aliás, se há harmonia entre o vinho branco e o chocolate com sorvete não posso dizer, mas que ficou perfeito na minha opinião, ah ficou.
Com $30 (R$15) ao total, tive uma aula de como a família Alvear desejava decorar seus palácios e ainda aproveitei pra alongar minhas pernas ciclistas pro caminho de volta a casa – claro que um pouquinho mais pesada. Se continuarei na moda da sustentabilidade? Certamente, desde que no meio do caminho eu possa parar e recuperar as energias (ou calorias, como quiserem).
Croque Madame
Avenida del Libertador 1902 (esq. Sanchez de Bustamante) – Palermo
Cap. Federal – Buenos Aires.
(11) 4806 8639
www.croquemadame.com.ar
Mapa
Bom para: quem curte um descanso a tarde.
Ruim para: comer a full.
Bolinho do Petit Gateau: mãe, faz um igual?
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Croque Madame | comida de museu
sisiSi! | variedades em Puerto Madero
Ainda com medo de se atirar em Puerto Madero, receoso de que por lá só tem pega-turista? Que lá só tem restaurante para gringo gastar dinheiro, cheio de pizza-café boutique? Calma que aqui e ali tem alguma coisinha boa. Aberto no início de 2010, o sisiSi! é um dos poucos que está ali para salvar a zona.
O lugar tem um ar bastante democrático, com diversos ambientes bem distintos. Logo ao entrar, é possível escolher entre um sofá relaxado, propícios para beber alguma coisinha e folhear uma revista...
... ou sentar no próprio bar, bem preparado para receber um paladar mais exigente do que aquele que chega e grita “chefe, baixa uma bem gelada”...
... ou então um bela garrafa de vinho da sua enxuta adega.
Seguindo pela casa, mais alguns ambientes diferenciados para quem busca outra proposta. Uma refeição à moda antiga, daquelas em que uma família enorme senta junto à mesa – com direito até a candelabros...
... ou uma mesinha perdida no meio do mezanino.
No outro canto, quase uma sala de estar: sofás, poltronas, poucas mesas e belos quadros destacados pela luz natural que invade todo o salão...
... iluminação esta que é bem aproveitada por grande parte do local ter paredes de vidro.
Mas com o lindo que fazia, fresco, ameno, e com o baixo movimento das ruas sossegadas ruas de Puerto Madero, não havia melhor escolha do que sentar na rua. E assim fomos.
Devidamente repousados em um dos gostosos e branquinhos sofás da área externa, começamos a brincadeira com um pão quentinho e uma pasta que não lembro o que era. Provavelmente de queijo. Ou não.
Logo depois, um shot! Ihaaaa! Nah, era só um consomé de pepinos. Perdão: um delicioso consomé de pepinos.
Sem muito fome, as escolhas do casal foram resumidas a um prato principal e uma salada para dividir. A saladinha Fiona vinha com agrião, rúcula, panceta, berinjela assada, cogumelos e bolinhas de queijo empanadas. “Salada” né, mas é assim que eu gosto.
E do outro lado, um salmão rosado grelhado – perfeitamente crocante e suculento -, com risoto de limão e baunilha e um crocante de mexilhão.
Ok, o grande momento: os tragos! Primeiro, um criativo daiquiri de morango com pedaços de chocolate e lascas de laranja.
E um... um... é amigo, ta ruim a memória. Era alguma variação de mojito, que eu prometo que até o final do dia eu acho a receita.
Enfim, tudo estava...AH, um momento. Um sorvetinho caseiro de chocolate e doce de leite, e assim estamos resolvidos do início ao fim.
Em resumo, o sisiSi!, além do criativo nome, passa uma sensação de porto seguro. Um lugar feito com cuidado, com personalidade, para, literalmente, se apropriar do ainda pouco explorado bairro de Buenos Aires. Continha de aproximadamente $150 (R$70), cartão de crédito, e seguimos.
sisiSi!
Aime Paine 1320 (esq. Azucena Villaflor) – Puerto Madero
Cap. Federal – Buenos Aires
(11) 5353 3321
www.sisisirestaurante.com.ar
Mapa
Bom para: várias coisas, mas sem perder personalidade
Ruim para: o preguiçoso, que acha Puerto Madero loooooonge
Luz natural: é vida
Clos de Chacras: vinícola boutique
Existe a Mendoza típica turista, dividida entre os passeios pelo centro da cidade e visitas às grandes vinícolas como a Norton, verdadeira potência da indústria de vinhos. Mas outra idéia bacana para curtir a região mendocina é se instalar em uma província, pegar uma bicicleta e curtir com mais calma, como é possível em Chacras de Coria.Após uma extensa pesquisa sobre as principais bodegas argentinas, acabamos conhecendo uma pela boa e velha indicação boca a boca: Clos de Chacras.
Logo na chegada já é possível observar os vinhedos secos, típicos da época, em um espaço bem reduzido. É porque a Clos de Chacras é uma vinícola boutique, produzindo vinhos em baixíssima escala e priorizando o trato de cada garrafa.
O conceito é tão forte que os próprios donos moram no terreno, em uma bela casa com vista para a plantação.
A idéia era fazer um típico tour pelas instalações antes de sentar para comer e beber, e assim nos aventuramos nos gelados corredores de pedra onde ficam os tanques.
Descendo mais alguns níveis, uma sala com barricas de carvalho onde os vinhos envelheciam.
E o absurdo da charme das anotações feitas a mão, com giz de cera.
Mais profundo ainda, garrafas delicadamente repousando umas sob as outras, naquela rusticidade que é o vinho ainda sem rótulo.
E a grossa camada de poeira mostrando que a bebida está relaxando ali faz um bom tempo.
Neste caso, há 5 longos anos.
E é basicamente isso, turnezinha rápida e charmosa, sem passar por quatrocentos processos industriais das grandes bodegas. O que, na minha modestíssima opinião, era excelente. Por que? Porque deixava mais tempo para curtir a boa mesa da vinícola.
Para não confundir o cliente, nada de restaurante com nome diferente da bodega. Oba, adoro quando as coisas são mais diretas.
O restaurante tem a cara do lugar: pequeno e acolhedor. Poucas mesas, decoração sóbria, e uma maravilhosa iluminação natural devido às imensas aberturas da casa.
No canto oposto, deliciosas poltronas de palha próximas à lareira. Dá para imaginar tranquilamente enfileirar umas quantas várias garrafas aqui.
Como algumas dessas dispostas em um armário.
Outra opção é aproveitar o deck da área externa, nos dias em que o frio das montanhas não queira te esfolar a cara. Infelizmente, não era o caso do dia em que fomos, em que nem o vento me deixou tirar a foto sem antes derrubar algumas taças.
E a cozinha do Clos? Ok, vejamos. Pão fresco, da própria casa.
Para acompanhar uma salada caprese, maravilhosa na sua simplicidade: tomates, mussarela de búfala e manjericão, acompanhados de uma leve geléia de pimenta.
O prato principal foi um filé de porco assado com farofa de especiarias e purê de abóboras. Macio, suculento, e enorme o suficiente para um casal dividir.
E... surpresa! Contrariando a regra, a garrafa escolhida não foi da casa (que levamos depois de presente, não se preocupem), mas um belo Chardonnay 2006 Andeluna reservado, da província vizinha Tupungato.
Uma experiência boutique que agradou do início ao fim, e que muito me faz pensar se eu não deveria largar a fúria da vida urbana e viver em um lugar assim. Mas devaneios a parte, pagamos a conta levinha de $120 (R$60) para o casal, pegamos nossas bicicletas e saímos como uma cena de filme da década de 50.Só faltou a trilha sonora.
Clos de Chacras
Monte Líbano 1025 – Chacras de Coria
Lujan de Cuyo – Mendoza (Argentina)
(54261) 496 1285
www.closdechacras.com.ar
Mapa
Bom para: fugir do circuito das grandes vinícolas
Ruim para: quem quer fazer o Disneytour das bodegas industriais
Bicicleta depois de beber: não. Não, ok?
Opera Town | after office no palácio
Tenho medo. Sendo sincero, eu tenho medo de qualquer festa que seja divulgada aos quatro ventos, muito pelo meu perfil de não gostar de noites gigantescas, com quatrocentas e cinqüenta pistas e duzentos e noventa e oito bares diferentes. Por isso, por maior que fosse minha curiosidade, ficava com um pé atrás com relação aos inúmeros cartazes colados por toda Buenos Aires para divulgar o Opera Town. Mas vamos lá, afinal, a festa ocorre no famoso endereço Alsina 940, e tava mais do que na hora de conhecer lá.
A proposta do Opera é a de um after office em plena quarta-feira, idéia replicada por tantos outros estabelecimentos e que me levava a pensar se haveria público suficiente pra tanto lugar, na mesma hora, no mesmo dia. Mas veja, a dificuldade em tirar uma foto sem alguém passando na frente já diz tudo: o lugar bomba.
Impossível não destacar a beleza do prédio. O lugar é realmente um lugar deslumbrante. É enorme, mas não aquele enorme do tipo “aluga um antigo depósito de trator, monta um bar e diz que é a melhor festa da cidade”. Não, aqui o pé direito descomunal, os mezaninos, os... ah, é tudo lindo.
E pra fazer o balanço entre a imponência e austeridade do prédio, um gigantesco telão que dá o clima de balada pro lugar.
Como já é de se esperar nesse tipo de lugar, o negócio é não inventar moda e pegar alguma bebida pronta. Como a idéia era acelerar, a noite exigia duas doses de vodka com Speed.
Também seguindo os padrões de after office, o DJ tocava desde eletrônico pop até reggaeton e outras coisinhas mais. E o público, majoritariamente acima de 30 anos, curtiu pra caramba. Era um desfile de mulheres lindas, sexy, absurdamente sedutoras na pista...
e de caras alinhados em seus ternos e gravatas, com aquele olhar predador de “trabalhei o dia inteiro e agora eu vou fazer só o que tiver vontade”.
Mesmo com uma concorrência feroz nesse segmento, o after do Opera Town já vale a pena simplesmente pelo clima que o lugar proporciona. Lá não tem a melhor bebida da sua vida. A música é a mesma que você escuta em todos os outros lugares. Os preço são os mesmos. Mas o clima... ah, o clima...
Opera Town
Alsina 940 (esq. Tacuari) – Centro
Cap. Federal – Buenos Aires
(15) 6037 9534
www.listasoperatown.com.ar
Mapa
Entrada somente com nome na lista, sem custo até as 21h30
Homens: traje Sport
Bom para: encerrar um dia de trabalho de forma catártica
Ruim para: os novinhos
Weird: falar tanto da arquitetura em um lugar cheio de gente bonita
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