Não é segredo algum a paixão que temos por aqui com Buenos Aires. Pela diversidade de opções, pelo alto nível dos empreendimentos, pelo público receptivo... enfim, por vários fatores. Mas hoje quero fazer um post fora do padrão e dar um exemplo típico de um dos motivos que levaram a concepção do In Spirits.
A escolha da noite foi o Mandarine Club, uma boate localizada em Punta Carrasco, na beira do rio. Como sempre, apliquei os filtros de sempre antes de ir a um lugar: procurar informações em sites, blogs, conversar com moradores da cidade, ler guias... E foi em um destes guias, que é melhor não citar o nome, que encontrei fotos e descrições incríveis do Mandarine.
Acontece que as parcas informações estavam completamente desencontradas com a realidade. To querendo dizer que o Mandarine é uma merda? Não, longe disso. A estrutura da boate é bacana, mas o público é majoritariamente na faixa dos 18 anos de idade no máximo, pessoal que tá recém começando a se soltar na noite. Ou seja, uma proposta diferente daquela vendida pelas informações.
Esse é um problema que acaba levando pessoas para os lugares errados, como aconteceu conosco nesta noite. Não pensem que somos velhos ranzinzas, porque aqui todo mundo é flexível e na boa com a maioria das propostas, vocês sabem. Mas isso não quer dizer que não vamos manter nossas preferências.
Se você faz parte deste perfil (e se fizer, dê um alo por aqui para saber que vocês freqüentam o site), vá fundo, o Mandarine é bacana. Caso contrário, esqueça qualquer informação que você venha a ler em guias mais genéricos, e fique aqui com a gente. Sinceramente? Não é uma questão de “bom” ou “ruim”, de “certo” ou “errado”. É uma questão de “cada público com sua proposta”. E para isso, nada melhor que fotos sem tratamento, experiência própria e um texto honesto, dale?
Mandarine Club
Av Costanera Norte y Sarmiento s/n, Complejo Punta Carrasco - Palermo
Cap. Federal – Buenos Aires
(11) 4806 8002
www.mandarineclub.com
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Mandarine Club | the night is young
Toien | sol em Peru Beach
Muita gente faz ligações bastante pré-concebidas de certos assuntos, e com o álcool é a mesma coisa. “Beber? Só na balada”. “Álcool? Só se for no balcão de um bar, no fim do dia”. Mas não tema, porque vosso Cool Alcohol Moments está aqui para esclarecer que toda hora é hora de beber, e não no sentido pejorativo. Chega mais em vem conhecer conosco a Peru Beach e o seu bar Toien, na província norte de Buenos Aires.
O lugar é um complexo de esportes antes de mais nada – esporte combina com álcool? -, e logo na entrada, passando algumas lojinhas de roupa e equipamento, o pessoal do hockey se prepara para entrar na cancha.
Mais adiante, um half para o pessoal do skate.
Mas o legal mesmo é a “cancha” dos kite e windsurfistas: o eternamente marrom mas sempre charmoso Rio de La Plata.A estrutura aqui é simplificada. Algumas cadeiras espalhadas pelo gramado, tendinhas de palha de santa fé, e, fundamentalmente, o desejo supremo de adorar o ócio sob o sol que acariciava a costa de Acassusso neste dia.
Quem quer ficar mais pra perto do rio geralmente se aconchega no deck, em longos e arrastados papos que imediatamente nos faz pensar em velhas conversas com os amigos.
Mais próximo do bar, uma casa simples de madeira - que esquecemos de fotografar -, tem um deck com dezenas de cadeiras de metal e pano devidamente patrocinadas por marca de cerveja. Simples, suficiente, e democrático.Tão democrático que, literalmente, qualquer espécie vem aqui para desacelerar.
Democracia essa que não tolera inimigos mortais, já que todos se respeitam...
até os mais oprimidos dos indivíduos...
e a ponta da cadeia alimentar se sentem a vontade para dar as caras por aqui.
Festejemos, então, o encanto que a simplicidade nos traz. Começando as atividades de forramento estomacal, um pancho exatamente como deve ser feito: pão e salsicha. Aliás, um pão bem fresco, e uma excelente e temperada salsicha.
Mais uma porçãozinha de nachos com molho de mostarda e mel, e vamos logo aos copos.
Um prêmio para quem acertar que bebida é essa:
E aqui, uma mais óbvia: clericot preparado com vinho frisante. Bem curtido, bem preparado, geladinho, doce no ponto.
E aquela história de só beber na noite? Por algum motivo, sentimos que as escolhas feitas no cardápio casaram perfeitamente com o momento escolhido. Tão certos disso, pagamos a conta de $100 (R$50), demos uma espreguiçada gostosa e saímos. Vagarosamente, arrastando os pés. No ritmo certo, como obrigava o momento.
Toien – Peru Beach
El Cano 794 (esq. Peru) – Acassusso
Vicente Lopez – Buenos Aires
(11) 4733 6503
www.perubeach.com.ar
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Caracas Bar | o vizinho cool
Uma porta vermelha. Por tantas vezes, ao passar em frente a fachada do Caracas Bar, fazia-se a infame piada: mirá, el Puerta Roja (a graça é que existe um bar chamado Puerta Roja em San Telmo, e não aqui, em Palermo). Ok, não tem tanta graça, mas o que interessa é que tal porta foi ignorada por tempo demais, mas felizes ficamos ao conhecer a noite do Caracas.O bar tem aquela simplicidade cool bastante típica de Buenos Aires. No primeiro piso, nota-se as mesinhas baixas coladas aos amplos janelões virados para a rua, o bar bacana e bem iluminado, um ambiente mais lounge e o espaço do DJ bem destacado. Tudo bem feito, com aquela cara de “chega ai, pede um trago e vamo curtir a noite”.
O lounge é um espaço um pouco mais escuro que os demais, com alguns sofás, e muita gente em papos animados. O típico espaço low profile que, quando chega um maluco apontando a câmera, ninguém fica muito feliz.
Tão confortável era a casamata do DJ que fiquei com vontade de discotecar. A janela filtrava a luz da rua devido a persiana abaixada, e criava uma sombra agradável em um espaço que já era cool sem esse detalhe. E o som? Do caralho! Mas não lembro o que era (puta profissionalismo).
Antes dos pedidos ainda conferimos o segundo piso. Bem mais sossegado que o animado ambiente inferior, mas um pouco frio. O terraço era extremamente agradável, mas a chuva que assolou a seca de Buenos Aires nos dias anteriores deixou tudo com cara de abandono. O que fazer? Voltar em breve ao Caracas para curtir o clima ao ar livre.
Ah, agora sim. Quem já conhece um pouco a alma cool alcohol moments, a sensação de estar In Spirits, já sabe do prazer que temos aqui em sentar no balcão. Por isso, vou apenas citar o que cantou Hugh Laurie: everything about me says I’m a sophistication king, but when I’m with you I can’t seem to find my cool. Yeah, when I’m with you, I’m just a dribbling fool.
Aos pedidos então. Primeiro, um Kangaroo, que levava tequila, kiwi, pêssego e suco de laranja. Palmas para os ingredientes frescos.
Em seguida, pedimos algo e o cara se desculpou ao ver que um dos ingredientes estava estragado. Palmas pela honestidade e por não preparar as bebidas com enlatados. Ao final, deixamos o cara inventar alguma coisa, pois é sempre bom ser surpreendido. Saca só:
Vimos também algumas caipirinhas de maracujá sendo preparadas e, ao sacar a foto, mudei o foco para o copo das gorjetas. Veja só, amigos brasileiros deixando R$ no bar. Brincadeira né gurizada?Ok, esqueçamos este breve momento de rabugentice e vamos ao que interessa. O Caracas Bar é um baita lugar para iniciar a noite, curtir um som bacana, beber algo por $25 (não vou nem colocar o valor em R$ só de protesto), e sentir aquele clima tipicamente portenho de “we’re cool but it don’t care”. Bravo!
Caracas Bar
Guatemala 4802 (esq. Borges) – Palermo Soho
Cap. Federal – Buenos Aires
(11) 4776 8704
www.caracasbar.com.ar
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Jardín Japonés | oriental autêntico
Um dos mais belos parques de Buenos Aires é, na modestíssima opinião de vossa editoria, o Jardín Japonés. Um propriedade verde entre as tantas dos bosques de Palermo, é um ambiente pacato, tranqüilo, e de uma beleza exuberante com sua vegetação bem cuidada.
Diferente da maioria das influências japonesas observadas no ocidente, aqui o lado nipônico é bastante tradicional. Ou seja, é o lugar ideal para observar o nado sossegado de algumas carpas ou os tons de rosa típico das flores de cerejeira.Antes que você feche essa janela, com medo de ter entrado por engano no blog In Gardens, espere mais um pouco. Tudo isso apenas para dizer que neste delicioso parque encontra-se um restaurante tipicamente japonês. E, ao contrário da maioria dos estabelecimentos construídos em locais turísticos, aqui o negócio é sério.
Irashaimase! O ambiente pode não ser dos mais bonitos – e nem dos mais japoneses. Falando de decoração, há quem possa reclamar das cadeiras sem qualquer charme ou das mesas revestidas com toalhas emborrachadas. Mas atente-se ao clichê oriental das luminárias de papel de fibras vegetais Kodo, e sinta-se em casa (se você for japonês, óbvio).
Uma pena que são poucas as mesas mais baixas, para comer sentado, sem sapatos, repousado sobre um futon e reservado por uma típica tela de shouji. Fica a dica: faça uma reserva.Mais uma rápida circulada pelo local e podemos observar o bonito trabalho realizado pelo staff, sempre sob os olhares atentos – e furiosos – do dono/gerente, que parece ter saído diretamente de um filme da Yakuza. Espero que ele não leia isso.
O cardápio é um desfile de pratos, mas vamos segurar a onda apenas com algumas lâminas de sashimi. Absolutamente frescas, extremamente saborosas, e a pedida perfeita para acompanhar o que vinha em seguida.Olha o charme dessa garrafinha. Sakê? Not! Pedimos o delicioso shochu, um destilado aromático e bastante leve. Difícil lembrar se este em questão vinha da batata doce ou do arroz, mas pouco interessa. Interessava mesmo era perguntar depois onde comprar uma garrafa.
Melhor ainda era poder saborear a bebida na delicada louça de porcelana, e fantasiar com uma visita ao arquipélago japonês para fazer parte daqueles cool alcohol moments nos quais executivos engravatados saem do trabalho para encher a cara (eu iria falar de gueixas, mas deixamos este clichê para outra hora).
Por $30 (R$15) a garrafinha, da qual duas pessoas podem apreciar com moderação, foi uma grata surpresa poder aproveitar uma tarde fria e ensolarada com toques de um oriente misterioso e sedutor sob a forma de álcool. E fica o desejo de que mais lugares cuidassem tão bem de suas tradições.
Jardín Japonés
Av. Casares 2966 (esq. Berro Adolfo) – Palermo Chico
Cap. Federal – Buenos Aires
(11) 4800 1322
www.jardinjapones.com.ar
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Kansas | happy hour americana
Atente-se a seguinte descrição: um lugar enorme, que serve pratos típicos da criticada cozinha norte-americana e faz parte de uma famosa rede de restaurantes. Soa como algo pasteurizado, completamente sem charme, quase como os insossos pizza-café que se espalham por Buenos Aires? Sim, pode ser. Mas definitivamente não é o caso do tradicionalíssimo Kansas.
Um lugar próprio para comer qualquer dia, qualquer hora, com a família ou com amigos, o Kansas é versátil sem perder a pose. Os salões enormes que caracterizam a sua casa são bem cuidados, com vistosas construções de madeira e mesas com aqueles confortáveis bancos típicos de qualquer diner visitado nos Estados Unidos.
Neste dia, a proposta era aproveitar a concorrida happy hour que acontece na filial de San Isidro, todos os domingos a partir das 17h. Quando falam em “concorrida happy hour” já dá para imaginar um pessoal com vontade de beber e trocar olhares lúdicos, mas aqui não era bem o caso. A idéia era sim, beber, mas para aproveitar as últimas horas do final de semana e bater um papo com os amigos. Atente a como cada grupo está focado em suas próprias conversas:
O que não quer dizer que o lugar não fica concorrido. As rodadas duplas oferecidas no bar (atenção, somente no bar, não nas mesas do restaurante) atraem muita gente, por vezes causando aquele típico engarrafamento humano, sempre divertido de olhar de fora.
Mas nada que algumas mesas mais reservadas não resolvam as necessidades de quem queira beber e comer algo sem se espremer junto a outros corpos.
Antes de bebida, começamos com um Kansas Roll, que só deixou mais vontade de voltar ao restaurante para provar mais pratos. Uma deliciosa massa fina recheada com uma pasta de frango desfiado, acompanhado de guacamole e outros molhos igualmente deliciosos.
Uma da sugestões do dia era uma Maracuroska: vodka Absolut, maracujá, lima e sour mix. Deliciosa, refrescante e docinha.
Mas o destaque foi o Cookies & Baleys. Emocionou tanto que perdemos a receita, mas levava sorvete, baileys, biscoito, chocolate... enfim, um trago excelente e mascaradamente forte atrás da fachada infantil.Seguindo, uma dosezinha de Amarula que não tem erro. No copo errado, mas tudo bem...E um limoncello para ajudar a digestão. Claro, somente para isso.
Resumindo? É assim: nada pior que o preconceito com tudo aquilo que venha da cozinha do Tio Sam. Marque para aproveitar um domingo de sol na província e encerre sua tarde com $25 (R$13) para cada dose dupla, terminando o final de semana com grande estilo: levemente alcoolizado.
Kansas American Cuisine
Av. Del Libertador 15089 (esq. Almafuerte) – Acassusso
San Isidro – Buenos Aires
(11) 4747 0606
www.kansasgrillandbar.com.ar
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Thelonious Club | jazz e tragos
Recapitulando: Cool Alcohol Moments se refere a todos os bons momentos vividos com um copo na mão. Ou seja, não estamos falando apenas dos tragos que tiram primeiro lugar em campeonatos, ou de cartas de vinho premiadas por seus mais de quinhentos rótulos. Uma palavra fundamental para definir um cool alcohol moment é atmosfera. Bastante generalista o termo, sim, mas podemos começar a defini-lá pela música. Entramos então no Thelonious Club. A fachada discreta, em uma zona pouco movimentada de Palermo, esconde um clube de jazz imperdível. Imperdível por que? Vejamos. A decoração é quase inexistente, muito simples. Algumas mesas em frente ao bar, perto do palco, e uma mais aconchegante com sofás antigos no fundo da salão.O bar? Simples também. Poucas garrafas, nada de firulas.Seria então a música? Podemos começar a concordar. Sempre com uma banda diferente tocando ao vivo, a sensação de poder recostar-se com uma bebida na mão e deixar o som cumprir sua magistral e enriquecedora função é bastante singular. Feche os olhos e escute.O clima do Thelonious é tão focado na música que até a equipe do bar para de trabalhar para aproveitar a banda. Aqui, todos relaxados na escada que leva ao mezanino, compenetrados na música que tomava conta do antigo casarão.Confortáveis no sofá, sorrindo com a trilha sonora, aproveitamos os nossos pedidos. Primeiro, uma tábua de queijos, com destaque para o roquefort e o parmesão picante.E apesar de destacar aqui a atmosfera, sejamos justos: a enxuta carta deste bar de Buenos Aires é executada com precisão. Primeiro um Madras, com vodka, suco de cranberry (o querido oxicoco) e suco de laranja.Na linha dos tradicionais, ainda veio uma marguerita salgada.Um Martini na versão Gospel, com vodka, Martini dry, angostura e um twist de limão.E finalizando com um colorido daiquiri de pêssego.Ainda rolou uma pizza de muzzarela, pois quando a banda prometeu uma versão de Nowhere Man de uma certa banda famosinha, ficou impossível de ir embora sem aproveitar o trabalho dos músicos até o final.
Com seus tragos custando em média $22 (R$12), o Thelonious é de uma personalidade fortíssima, e transparece sua alma jazz em cada detalhe da casa. É a virtuose que nasce da despretensão, e, para isso, impossível não aplaudir de pé.
Thelonious ClubJerónimo Salguero 1884 (esq. Guemes) – Palermo
Cap. Federal – Buenos Aires
(11) 4829 1562
www.thelonious.com.ar
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