Conforme os dias vão passando e o número de lugares visitados vai crescendo, a boa intenção de transformar estas páginas em um guia bacana acaba sofrendo de um problema. Aliás, um bom problema: entre tantas boas opções, qual escolher? Pensando nisso, vamos parar novamente para rever alguns lugares bacanas percorridos por Buenos Aires e separar em três diferentes Spirits: Cool, Party, e Placid.

O Cool Spirits é um roteiro para quem quer lugares bacanas, boas bebidas, pessoas circulando, grupos de amigos, etc. Um roteiro nem muito agitado, nem muito quieto.

O Party Spirits é uma esbórnia, para quem tá pela correria. Lugares para tomar algo enquanto troca olhares, telefones e sabe-se lá mais o que.

E o Placid Spirits é para quem quer sossego. Longas conversas em lugares calmos enquanto os copos são tranquilamente vertidos, sem pressa, sem tumultos.

Isso significa que estes são os roteiros definitivos de Buenos Aires? Não! É possível não ir em nenhum dos lugares listados e ainda assim ter uma experiência incrível na cidade, tamanho o leque de opções que a capital portenha oferece. Mas os roteiros a seguir levam o selo In Spirits, assim, vai que é tua!

Cool Spirits

Qualquer noite no Casa Cruz e sua fantástica barra, comandada pelo talentoso Sebastián Tiseira, é garantia de uma noite de excelentes tratos.

Se o clima for mais para um bar pequeno, aquele típico de bairro freqüentado por amigos do dono, temos o simpático Barhaus.

Doppelgänger: casa do fantástico Guille Blumenkamp e de alguns dos melhores tragos preparados na cidade de Buenos Aires.

O clima praiano cria um ambiente light, mas que não deve ser confundido com falta de qualidade. Gabriel Chamiguian comanda um bar extremamente criativo no El Tiki.

O Sullivan’s, um pub extremamente democrático, que não apenas agrada aos cervejeiros mas também quem busca bebidas diferenciadas e bem preparadas.

Em Las Cañitas, o mexicano Lupita é uma aula de competência, tanto pela cozinha como pelos tragos criados por Alejandro Caia e Tato Giovannoni.


Placid Spirits

Uma tarde tranqüila na beira do Rio da Prata com um bom clericot. Essa é a receita ideal para curtir tranquilamente na zona norte, como no Barrancas de Alvear.

Uma charmosa casinha banhada pelo sol da tarde e o sotaque francês do La Maison compõe uma das melhores opções para se curtir uma taça de vinho em Palermo.

O genial Páru não só tem uma fantástica cozinha nipo-peruana, como também uma seleção de drinks de autor fantástica criada pelo próprio chef Jaan Van Oordt.

Aprendam: bar de hotel não precisa somente do básico para os hóspedes. Um dos lugares mais charmosos e com uma carta clássica de primeira você encontra no Ultra.

Mais clássico ainda é um Martini ou um Manhattan no Puro Bistró, acompanhado de um bom Cohiba ou Montecristo.


Party Spirits

Um dos mais bonitos de Las Cañitas, o bar Mona é um lugar ideal para aquecer antes de seguir para uma noite mais forte.

Nas quartas-feiras, o Godoy transforma-se em um dos after office mais agitados da cidade. Chegue cedo, bata um papo, e mais tarde aproveite o agito da pista.

Sempre um lugar animado e cheio de gente bonita, o Mute é sempre uma alternativa certeira nos finais de semana portenhos.

E se você conhece alguém, tem boa pinta, tem grana e todo o conteúdo high society, se atire na exclusivíssima balada na Tequila.

E ai? Conhece alguma boa que ficou de fora? Não esquece de nos contar!

Villa La Angostura. Simpatizo tanto com esta pacata cidade da Patagônia argentina. Ao mesmo tempo que serve de ponto turístico, quase que um programa de um dia para as multidões e multidões e multidões e multidões e mu... bem, multidões que elegem Bariloche como seu destino de férias, esta pequena aldeia – adoro usar esse termo – tem um quê de reduto secreto. Bobagem minha ou não, esse foi o sentimento ao parar na estradinha que leva o centro de esqui boutique Cerro Bayo. Aprecie com moderação: a cidade é minha. Obrigado.

Você, excursionista que adora pegar uma fila e pagar caro por isso: entre no clima da cidade com a base da estação, tão pacata quanto todo o resto de Angostura.

E, no bom espírito hermano, uma mensagem para os amigos brasileiros, de ressaca após uma derrota futebolística. Ok, vamos de Quilmes.

Mas chega de turismo e firulas. Baixamos até a rua principal, no centro, com fome, sede e pernas cansadas. Sem prestar muita atenção, porque tem vezes que é bom entrar no primeiro restaurante que você bateu o olho, achou simpático e ponto final. É o caso do Vientos Verdes.

A decoração você já conhece. Madeira, madeira, madeira. Um bônus para a idéia de imitar galhos de árvore para esconder os fios das luminárias no teto do salão. Simples, mas uma excelente solução e que encaixa perfeitamente com o lugar.

Em um dia 100% clichê, começamos com uma deliciosa, sequinha empanada de cordeiro. Tão bonita que deu vontade de aparecer na foto com ela.

Em seguida, um prato mais feio que aquela sua prima que botou fogo na cara e seu tio apagou com chutes: uma seleção de queijos e carnes patagônicas defumadas, como truta, salmão, javali e cervo. Feio sim, mas sempre uma boa pedida, principalmente o javali.

Tudo isso só para acompanhar o jovem Cabernet Sauvignon Postales del Fin del Mundo 2007. Leve, perfumado, mas não tão leve nem tão perfumado quanto o seu preço de R$12. Sim, porque às vezes nós pensamos com a carteira, certo?

Lembra daquele papo de reduto secreto? O sentimento cresce ainda mais ao dirigir o carro até a baía de Puerto Manzano, tida como um bairro por lá. Basicamente um bosque na beira do lago cheio de hotéis charmosos, o que dificultou enormemente em optar pelo restaurante ideal. Mas arriscamos, de novo sem medo, no Terra Alta Bistrô.

O restaurante da Hosteria Puerto Sur nos atraiu devido a vista inacreditável do entardecer não fotografado, mas o time de mulas esqueceu que, de noite, não se vê m***** nenhuma. Mas digamos que era algo mais ou menos assim, só que melhor.

O lugar era mega simples, e até um pouco frio para os padrões da região. Talvez, por isso, posei para a foto fazendo o tradicional lero-lero.

A sensação sem sal passou imediatamente ao notar um piso de vidro, mais no canto do salão. Me aproximei, sorrindo como um gordinho em buffet livre, ao notar a descolada adega que se escondia sob o solo. Ok, nesse caso, vamos de vinho. Me sacrifico.

Como se já não fosse suficiente boa impressão causada pelo momento anterior, o chef mostrou inspiração com uns sorrentinos de abóbora com molho de queijo, tomilho e amêndoas. Eu já pensava em repetir após a primeira garfada.

Se harmoniza ou não, tenho nem idéia. Mas feliz fiquei eu, jovem padawan, com o rose escolhido. Qual? Não lembro. E você, que esquece qual vinho tomou quase sempre? Um abraço!

Foram necessários sagrados R$40 para acertar as contas, e voltar para o quarto feliz pelo dia na pacata aldeia, feliz pela seqüência de clichês bem acertados e, se me permitem uma reclamação, triste por não ter minha própria casa em Puerto Manzano. Ah, por favor, não posso ser fútil por um dia?


Vientos Verdes
Av Arrayanes 125 – centro
Villa La Angostura – Neuquén
(02944) 494 719

Terra Alta Bistro
Los Pinos 221 – Puerto Manzano
Villa La Angostura – Neuquén
(02944) 475 399
www.hosteriapuertosur.com.ar

Chega de beber. Sério, não aguento mais. Não é nem ressaca violenta, ou estar constantemente bêbado. É tanto álcool no corpo que me sinto em um eterno envenenamento. Ao me deparar com este limbo, precisava reativar meus costumes naturebas e preservar a saúde em um domingo bem light. Ou assim eu pensava ao passar uma tarde sossegado à beira do rio no Barrancas de Alvear.

Um restaurante como muitos outros da província norte de Buenos Aires, o Barrancas tem aquele ar de “monta rápido ai alguma coisa e vamos vender comida pra esse povo que vem curtir um dia de sol”. Ruim? No way.

A casa antiga, com ares de chalé de família tradicional de um balneário famoso, está ali como coadjuvante de um cenário mais grandioso, e isso não minimiza suas qualidades dessa posição. Nem todos nasceram para o papel principal, assim que jogar uma centena de cadeiras e mesas na área externa já tem sua importância...

... quando a verdadeira atração está para o outro lado. O Rio do Prata, que banha tanto os gramados verdinhos da província como a costa norte da capital Buenos Aires. Um clima relax, de se jogar na grama com um mate, conversar, trocar uns beijos, aproveitar o ameno calor que os raios de sol propiciavam no frio costaneiro de um belo domingo.

A cozinha segue a simplicidade de todos os outros elementos, e faz sentido. É possível montar um prato de salada a partir do buffet disponível no restaurante, para ir enganando a fome.

Ou também ir em um prato tipicamente portenho: milanesa con papas fritas. 

Mas In Spirits veio ao mundo a trabalho, então ignorei completamente a sensação de morte iminente por envenenamento alcoólico e pedi uma bebidinha. Aliás, pedi logo uma jarra que é para provar o quão foda eu sou – ou o quão burro, whatever. Mas o clericot estava honestíssimo, geladinho, e as frutas bem curtidas.

Com isso, era só rezar aos céus para que não me levasse ainda e aproveitar o avermelhado céu que se fundia com o cenário. Claro que pagar $55 (R$27) pela morte não vale a pena, mas o que importa aqui não eram esses detalhes pessoais, e sim o inegável fato: é delicioso demais passar o dia curtindo o ócio sem pressa e preocupações. Viram? Já estou vendo uma luz!


Barrancas de Alvear
Elcano (esq. Alvear) – Martinez
Vicente Lopez – Buenos Aires
(11) 4798 4262
Mapa

Buenos Aires às vezes me passa a impressão de ser uma cidade tão aberta para novidades e variedades que acaba faltando espaço para os pequenos bares. Pequenos no sentido da proposta simplificada. Sabe aquele bar típico de bairro de cidade pequena, onde os donos assumem todas as funções, onde a maioria dos clientes têm aquela cara de freqüentadores assíduos, e todo mundo é amigo de todo mundo? Foi a impressão que tive ao cair de pára-quedas no Barjaus.Normalmente eu sou um chato com decoração, e faço campanhas ferrenhas contra o uso de certos itens como pingüins de geladeira ou lonas de plástico. Mas ignorei completamente tudo por um simples fator: a casa é linda demais. Esqueça bobagens que você leu em um caderno besta do seu jornal local de arquitetura, e curta com calma as paredes antigas que circundam o pátio interno e o verde em abundância que deixa tudo mais agradável para as dezenas de amigos que tratam o lugar como seu próprio lar.

E vale a pena repetir a informação: observe bem os detalhes da casa e o verde abundante. Prova de que nem sempre você precisa de sofás enormes, espelhos d’água, tecidos extravagantes e projeto de iluminação que estupra o orçamento.O sentimento de estar em casa é realmente o forte aqui. Sem equipe treinada e uniformizada, tudo extremamente informal mas de bom gosto. E claro, inevitável sorrir para o sapo ao meu lado, que parecia debochar do meu ar de turista com câmera na mão.

A cara de tragos condiz com a proposta do local, e fui direto em uma receita que gosto bastante, o Piel de Iguana. Gancia, vodka, licor de kiwi, refrigerante de limão e um dash de limão. Simples, refrescante, e na medida. Exatamente como aquele seu primo sabe fazer tragos nas festas de família.Melhor experiência mega ultra blaster da vida? Claro que não. Mas e quem disse que todas as noites devem ser dessa maneira? Sinceramente, tem vezes que essa sensação de morar em cidade pequena traz um acalento único, e de minha parte, eu continuaria a pagar $20 (R$10) para tomar um copo desses em um bar desse naipe toda semana.

Barjaus
Gorriti 5151 (esq. Fray Justo Santamaria Oro) – Palermo Soho
Cap. Federal – Buenos Aires
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Eu já fui para a Disney. Acho fantástico aquele lugar, aprecio a capacidade do norte-americano de criar mundos artificiais de forma convincente, aquela maneira de transformar qualquer experiência em algo temático. Mas, como já relatei antes por aqui, igualmente me fascina quando bares e restaurantes são criados com o único propósito de emoldurar os sabores preparados em suas cozinhas e barras. Sorry, Heston Blumenthal, mas hoje não é dia de firulas. É dia de Sudestada.
A pequena casa em uma esquina da Hollywood de Buenos Aires lembra um bistrô charmoso como muitos outros da região. Decoração minimalista, poucas mesas, ambiente calmo. Olhando assim é difícil apostar que o Sudestada serve com maestria receitas frescas do sudeste asiático.

Aqui, nada de exposições étnicas e trajes típicos. Apenas o melhor aproveitamento da casa e da região, com suas imensas janelas convidando o sol a entrar e permitindo que os olhos se percam no arborizado bairro de Palermo.

Aproveitei o horário de almoço para provar o menu executivo do restaurante, que foi extremamente feliz. Primeiro, uns dumplings vegetais com um molho picante, extremamente saborosos.
Seguidos de um macarrão vietnamita com carne picante e vegetais.

Tanta “picancia” assim só serviu de desculpa para beber sem parar. Enfileirei cinco limonadas thailandesas, mas, aqui entre nós, chorei para que “batizassem” com um pouquinho de vodka. Pelos deuses, que limonada!
Os amigáveis $50 (R$25) resolveram tudo sem maiores problemas, e ficou, mais uma vez, a certeza de que quando o carro chefe está no paladar, o resto é apenas perfumaria.

Sudestada
Guatemala 5602 (esq. Fitz Roy) – Palermo Hollywood
Cap. Federal – Buenos Aires
(11) 4776 3777
www.sudestadabuenosaires.com
Mapa

Peço desculpas a vocês hoje, mas o coração está apertado de saudades e preciso desabafar sobre o que aconteceu. Claro, homem só sabe ter dois problemas na vida: trabalho e mulher. Já adianto que o trabalho está sob controle, mas anda difícil fincar o pé em um relacionamento mais estável enquanto esse incômodo que esmaga o peito não dissipa. E a tormenta cresceu nos últimos dias ao reviver as lembranças de uma San Martin de Los Andes romântica, propícia para a ternura de um casal. Enfim, foi no Doña Quela que cai de joelhos por uma argentina.

Confesso que não estava pronto para me entregar de tal maneira. Nunca imaginei que ficaria tentado de tal maneira em um pacato restaurante, cenário inspirador para receber famílias que queiram aconchegar-se ao redor de uma bela refeição. Conversas sobre a qualidade da neve, enquanto os olhos varrem a casa registrando cada detalhe de uma decoração que remete a um viajante da década de 30.

Sinceramente? Como desconfiar que esta seria a noite que mudaria tudo? Como imaginar que uma bela argentina, ainda que tenhamos o problema da diferença de idade – ela nasceu em 2004 -, roubaria a cena mesmo em circunstancias outrora caprichosas ao meu ego, como a oferta de um fantástico bar que também remetia a outros tempos?

Logo nas primeiras conversas já sentia um arrepio percorrendo a espinha. O simples toque dela já me despertava uma avalanche química no meu corpo que não ouso comparar com outras mulheres, por mais que elas se esforcem. E o perfume delicioso? O momento foi breve, mas suficiente para sentir a opressão do tempo, que insistia em acelerar e lembrar-me constantemente que, em algum momento, eu seria obrigado a me despedir.

E por mais atraente que fosse o mundo ao redor, por mais que os breves instantes em que os pés tocavam o solo e a razão me trazia de volta a realidade, haveria maneira de um homem escapar de tal posição subjugada ao mortífero charme de uma fêmea? O mundo pode tentar lhe mostrar outros caminhos, as virtudes de novas sensações como o fraterno calor montanhês encontrado na combinação de cogumelos portobello com um cremoso risoto.

Pode até insistir com emoções mais tentadoras, raras, adocicando o prazer através de peças de cordeiro com um delicado molho de mel.

Mas o coração é teimoso – para não falar dos impulsos carnais que facilmente derrubam a maioria dos homens. Com aquele sotaque argentino carregado, um inesquecível perfume de chardonnay, e, principalmente, com o calor que ela me dava, mesmo estando com o corpo frio – típico das mulheres no inverno -, cada beijo que Angelica me dava era um alude de sensações maravilhosas. Não conseguia decidir se acarinhava a mão dela com calma e conversava sobre a vida, ou se permitia que o tesão explodisse furiosamente em um desesperado arrancar de roupas, até que a única coisa que restasse fosse aquela linda boca de fastio.

Mas o drama começa, sempre, na despedida. Não entrarei em detalhes de como hoje é complicado manter um relacionamento com ela. O próprio sogro, Zapata, insiste em dificultar ainda mais o romance devido a nossa distância. Mas o que é o amor senão um desafio pessoal? O quão insignificante são $120 (R$60) quando a soma das doces lembranças com as incríveis promessas prometem uma vida que nem o mais otimista dos apaixonados julgava possível?

Doña Quela
Av. San Martin 1017 – Centro
San Martin de Los Andes – Neuquén, Argentina
(02972) 420 670
www.interpatagonia/donaquela
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